Estratégia Empresarial

Avaliação de Custos na Gestão de Saúde

Parte das organizações desconhece o real custo da prestação de serviço e atenção ao paciente, além da relação entre valores e resultados 

Por André Farias

Atualmente, em diversos países, a tendência é de alta nos elevados custos dos serviços de saúde e, em muitos, devido a crises fiscais e financeiras, como no caso do Brasil, os recursos de investimento são cada vez mais escassos. O maior problema em relação aos custos da assistência à saúde não é o sistema de financiamento nem o lado político. É, antes de tudo, a ausência ou a insuficiência na apuração adequada destes custos.

Diversas explicações são facilmente encontradas para esta elevação. A transição demográfica e epidemiológica com o consequente aumento da prevalência de doenças crônicas e o envelhecimento da população, além do advento de diversas inovações tecnológicas mais onerosas colaboram fortemente. Por outro lado, metodologias de custeio e incentivo perversas também contribuem, visto que o pagamento por procedimentos realizados e não por resultados obtidos favorece esta crise. Já o usuário, tanto do sistema de saúde público quanto do privado, apresenta nenhum ou pouco interesse pelo custo da assistência requerida.

Contudo, alguns especialistas reconhecem uma explicação mais significativa para a escalada dos custos: a maneira pela qual eles são medidos. Em grande parte dos serviços de Saúde há quase total ignorância sobre o custo da prestação do cuidado ao usuário, desde a alta gestão até os colabores da linha de frente. Este cenário se torna pior quando se remete à relação entre esses custos e os resultados obtidos. Em vez de focar no custo do ciclo inteiro de cuidado prestado ao usuário dentro da organização, considerando também os processos administrativos, os gestores, quando analisam, apenas agregam os gastos e os verificam no contexto de especialidades ou de departamentos específicos.

Para piorar, há uma divergência no cenário da saúde sobre o significado de redução de custos. Quando políticos, autoridades públicas ou investidores falam em reduzir custos em saúde, em geral estão se referindo à quantia que o governo ou as seguradoras de saúde pagam a prestadores da assistência. Entretanto, eles não se referem ao custo, para o prestador, de oferecer e desempenhar os processos de assistência à saúde, ou seja, ao custo de executar as ações de cuidado.

Ao se reduzir o valor expendido, o financiamento, pelo investidor, há sim diminuição na conta a ser paga pelos governantes ou pelas seguradoras. Com isso há, consequentemente, diminuição na receita dos serviços de saúde, mas isso não significa automaticamente que o custo autêntico da assistência efetuada seja minimizado e os gestores pactuam com essa confusão.

Os gestores de serviços de saúde, frequentemente, separam seus custos em procedimentos, setores e ações segundo o valor da remuneração recebida em contrapartida, ao invés de levar em consideração os recursos legítimos utilizados ​​para efetuar as atividades. Porém esse valor em si é creditado em pressupostos fortuitos e inconsistentes sobre os processos assistenciais realizados.

Uma metodologia frágil de análise de custeio tem consequências desastrosas. Ao não compreenderem os próprios custos, grande parte dos gestores são incapazes de conectar os custos às melhorias de efetividade em processos ou resultados, o que impede que promovam medidas econômicas sistêmicas e sustentáveis. Longe disso, os gestores utilizam, e muitas vezes também os investidores sugerem, medidas simplórias como cortes aleatórios em serviços mais dispendiosos, revisão da remuneração de colaboradores e avaliação do tamanho do quadro de pessoal. Todavia, impor limites de gastos discricionários a setores, a processos isolados da assistência, ou a categorias específicas de gastos, produz apenas contenções superficiais, que muitas vezes aumentam os custos globais para a organização e deterioram os desfechos esperados.

Vários aportes de recursos financeiros entrelaçados entre procedimentos diferentes ocorrem devido à análise equivocada dos gastos. Os serviços de saúde são ​​generosamente remunerados por certos procedimentos e, por diversas vezes, levam prejuízo em outros. Graves distorções na oferta e na eficiência da assistência são causadas por este financiamento cruzado. A incapacidade de avaliar devidamente os custos da assistência e de compará-los com os resultados obtidos está na raiz dos problemas de financiamento em saúde e dificultou a adoção de modelos mais eficazes de remuneração.

A mensuração inadequada de custos e de resultados propicia, ainda, que o gestor eficaz não seja reconhecido por suas ações, enquanto o ineficiente tem pouco ou nenhum incentivo para ir além. Aliás, uma organização pode ser penalizada por reduzir a utilização de serviços altamente remunerados por meio dos avanços promovidos em tratamentos e processos conforme estudos analíticos de seus gastos. Sem uma avaliação correta, a saudável dinâmica do mercado de competição entre organizações, na qual provedores de maior valor e eficiência crescem e prosperam, não evolui. Por outro lado, temos uma competição indolente, em que prestadores de assistência à saúde destroem o valor da organização ao se concentrar apenas na avaliação de processos altamente remunerados, ao deslocar custos para outros setores e ao buscar de forma isolada e inepta a redução dos gastos.

Portanto, para garantir resultados melhores com um menor gasto total por uma atenção à saúde de excelência é fundamental que os custos sejam primorosamente analisados.  Uma das melhores ferramentas que temos atualmente para transformar a situação financeira dos serviços de saúde é aferir e analisar com precisão custos e resultados e isto requer maturidade de gestão. Diante de indicadores propícios e meticulosos sobre os custos da assistência à saúde os gestores competentes serão capazes de tomar melhores e mais apropriadas decisões para reduzi-los e, concomitantemente, aprimorar os resultados para os usuários.

André Farias é médico com experiência em Gestão de Saúde, Consultor da GesSaúde, Co-fundador e Diretor da FSL Governance, Mestre em Gestão de Tecnologias e Inovação em Saúde, possui MBA em Gestão Hospitalar e Especialização em Gestão de Saúde Pública.

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