Tecnologia de Gestão

Dos dados à tomada de decisão: a importância da informação em Saúde

Com o desenvolvimento de ferramentas como IoT e inteligência artificial, tecnologias de gestão se tornam cruciais para ampliar qualidade da assistência e otimizar resultados

por editorial GesSaúde

Um sistema que indica com 95% de acerto a probabilidade de o paciente vir a óbito parece roteiro de filme de ficção científica? Pois pesquisadores da Universidade de Standford, nos Estados Unidos, em parceria com o Google, criaram um modelo que, além de prever esse índice de mortalidade, também acerta 85% dos casos de internação superior a sete dias e 75% dos indivíduos que serão readmitidos no prazo máximo de 30 dias. Isso foi possível utilizando algo simples e que é gerado cotidianamente no hospital: informação.

O sistema utilizou 46 bilhões de dados gerados por 216 mil pacientes em dois hospitais norte-americanos. Wagner Sanchez, coordenador do curso de MBA em health tech da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), usa o exemplo para explicar por que os dados gerados por tecnologias de gestão em organizações de Saúde são tão valiosos. “Estamos alimentando sistemas com uma quantidade cada vez maior de dados, que vêm de diferentes dispositivos e em múltiplos formatos. Quando trabalhados por ferramentas de inteligência de negócios, se transformam, a cada dia com mais eficiência, em informações para a tomada de decisão.”

Dados são gerados cotidianamente não apenas nos hospitais, mas em todos os aspectos da vida humana. “Exemplo simples é uma promoção. O participante preenche um cadastro e insere seus dados digitalmente. Coloca nome, endereço e, muitas vezes, responde a várias perguntas. Em cima disso, as empresas traçam um perfil do consumidor. É possível saber faixa etária, sexo e outros dados. Chamamos tudo isso de big data. Os dados servem para que as instituições façam análises por regiões, tracem um perfil do consumidor ou tenham sempre as informações de um paciente a mão, independentemente de onde ele é atendido. Essas informações são fundamentais na tomada de decisão. Uma empresa pode, por exemplo, analisar se um investimento é válido ou não para uma determinada área”, explica João Carlos Lopes Fernandes, coordenador do curso de Engenharia de Computação do Instituto Mauá.

O mundo já percebeu o valor desse tipo de conhecimento, coletado não só por sistemas de gestão, mas também por dispositivos vestíveis e outros equipamentos dotados de sensores. Não é à toa que Emmanuel Macron, presidente da França, anunciou o sistema de Saúde centralizado como uma das fontes que será utilizada em projeto que destina US$ 1,8 bilhão para o desenvolvimento da inteligência artificial até 2022. O objetivo do líder francês é melhorar o desempenho dos serviços públicos com a criação de máquinas capazes de perceber o ambiente e tomar decisões.

Fernandes cita como exemplo no hospital o uso do prontuário eletrônico, já bastante difundido no Brasil. “As informações podem ser coletadas assim que o paciente chega e no decorrer da trajetória dele no hospital. Ele é identificado pelo sistema já na recepção e as informações armazenadas são utilizadas pelos especialistas que o atendem para direcionar melhor o tratamento, ao mesmo tempo em que novos dados são inseridos.”

Esses elementos podem vir de diversas fontes, mas devem ser qualificados e organizados para que possam ser utilizados na tomada de decisão. “Para isso é preciso garantir que os dados certos estão sendo coletados. Esse é um dos grandes desafios da informação em Saúde atualmente”, comenta Sanchez, da Fiap. Uma forma de tornar a informação mais confiável, segundo ele, é automatizar o maior número possível de processos do hospital. “Por exemplo, ao invés de haver a digitação humana de aferição de pressão de um paciente, que está sujeita a erros, pode ser instalado um sensor que mede todos os sinais vitais do indivíduo e envia diretamente para o prontuário. Assim a chance de erros diminui drasticamente.”

Além disso, para extrair o máximo dos dados, são indicadas tecnologias como machine learning, inteligência artificial e computação cognitiva. “Os sistemas precisam ser treinados com uma massa de dados confiável para que aprendam a tomar decisões”, destaca Sanchez.

Robôs e humanos

Isso não significa que os profissionais humanos deixarão de ser necessários no hospital. “Nos Estados Unidos há um sistema de inteligência artificial que identifica câncer de pele. Ele pode tirar uma foto do tumor e dizer se é maligno. Essa máquina foi treinada para saber o que é e o que não é câncer e pode ajudar, por exemplo, a excluir a maioria dos casos negativos para que o especialista se foque apenas nos positivos.”

A medicina preventiva é outro exemplo do uso dos dados em prol do paciente, citado por Fernandes, do Instituto Mauá. “Com o armazenamento e análise das informações dos pacientes, pode-se prever a incidência de um surto e planejar a quantidade de vacinas necessárias para combatê-lo. Os hospitais recebem, digitalmente, o número de infectados por região e podem estimar a produção de doses. Assim, envia-se o número certo para cada região, identificando onde está o foco da doença. O hospital consegue prever também a falta de vacinas e encomendar antes – o que pode ser feito com seis meses, até um ano de antecedência”, explica.

Tudo isso está acontecendo agora nos hospitais de todo o mundo. Para o futuro, as potencialidades são ainda maiores. “O que teremos em um período muito curto de tempo é um aliado digital dos profissionais de Saúde, que trará muito mais eficiência à assistência, aumentando a qualidade de vida das pessoas, a longevidade, a prevenção e predição de doenças. Às competências do médico se unirá a inteligência e agilidade dos robôs com foco em apoio ao diagnóstico. Às qualificações dos líderes, teremos analytics e Business Intelligence atuando a favor da gestão.”

Transformados em informação e servindo de apoio à tomada de decisão, os dados deixam de ser apenas números – ou imagens, descrições, resultados de exames – e fazem o hospital alcançar a qualidade almejada pelo paciente exatamente com os recursos necessários para isso.

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Foto: Depositphotos

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