Estratégia Empresarial

Os desafios do envelhecimento da população para o hospital

Mudança no perfil epidemiológico traz aumento de doenças crônicas, que demandam assistência prolongada e custos mais elevados

por editorial GesSaúde

Há em todo o mundo um movimento de envelhecimento populacional que, de alguns anos para cá, começou a chegar com mais intensidade ao Brasil – antes considerado um país jovem. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2017, aponta que entre 2012 e 2016 o grupo de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 16%, enquanto o de crianças (entre 0 e 13 anos) caiu 6,7%. Até 2060, o IBGE estima que a população com 80 anos ou mais deve somar 19 milhões de pessoas.

O último relatório técnico da Organização das Nações Unidas destaca que, em 2050, a expectativa de vida nos países em desenvolvimento, como o Brasil, será de 82 anos para homens e 86 para mulheres, 21 anos a mais do que os respectivos 62,1 e 65,2 atuais. E um dos setores que mais sentirá esse impacto é o de Saúde. Afinal, todos querem envelhecer com qualidade de vida – mas os desafios para alcançar essa premissa no Brasil são imensos.

Segundo o professor Paulo Salzo, da Escola de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, o primeiro ponto a ser levado em consideração sobre o envelhecimento populacional é a mudança do perfil epidemiológico. Em populações jovens, é mais comum a ocorrência de doenças infectocontagiosas, cujo modelo de resolução é baseado em cura ou morte. Já em idosos, o perfil se concentra nas doenças crônicas – que, em geral, não tem cura e requerem tratamentos prolongados a fim de manter a qualidade de vida. “Inúmeras condições mórbidas são de ocorrência mais elevada no envelhecimento, como por exemplo as doenças degenerativas e as doenças neoplásicas”, explica o especialista.

Para lidar com essas condições, é preciso se preparar. E a palavra chave nesse sentido, para Salzo, é a prevenção, aliada a um manejo integrado de práticas de nutrição adequada e exercício físico. Para alcançar esse modelo, faz-se necessária uma mudança no sistema de Saúde – hoje focado no tratamento e cura de doenças já estabelecidas. É um movimento que depende de todas as organizações envolvidas no cuidado, mas que ainda avança a passos lentos, com iniciativas isoladas no País.

Esse modelo é fundamental para suprir o aumento da demanda e lidar com os custos que fatalmente irão crescer conforme a população envelhece. “Evitar custos é impossível, mas seria pertinente elaborar estratégias para reduzi-los. Um grande problema é que vivemos em um país de custos e impostos muito elevados, o que dificulta realizar procedimentos mais adequados e acessíveis”, destaca Salzo.

A tecnologia tem um papel importante na redução dos custos. Ela pode ajudar tanto os hospitais, desde que haja gestão profissionalizada, quanto os pacientes, desde que recebam orientação correta. Aliás, esse é um dos principais pontos sensíveis destacados pelo especialista: mesmo que haja uma mudança massiva no modelo do sistema de Saúde, é preciso investir ainda no engajamento dos pacientes com sua própria saúde e qualidade de vida. “Os profissionais de Saúde devem orientar corretamente os pacientes e conseguir sua participação e adesão aos tratamentos. Eles podem ser orientados sobre como se prevenir, atuando em conjunto com o hospital. Até mesmo a internet é um caminho para orientação, desde que bem indicada, com sites e aplicativos de confiabilidade alta.”

Mas somente tecnologia não basta. O hospital precisa usá-la como um meio para mudar os modelos de gestão vigentes e se tornar uma organização preparada para o futuro. Nesse sentido, tornar os processos maduros, trabalhar com estratégia, garantir a governança corporativa e a gestão de pessoas são passos fundamentais para garantir um futuro no qual a saúde será, de fato, o principal serviço oferecido pelas instituições.

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