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Surtos de doenças erradicadas voltam a preocupar hospitais

Tecnologias de gestão auxiliam a traçar cenários e prever demanda, mas é preciso aliá-las a estratégias com foco em evitar as doenças

por Editorial GesSaúde

O Ministério da Saúde deu início no dia 06 de agosto à campanha nacional de vacinação contra poliomelite e sarampo. Foto: Pixabay

A vacinação é uma das formas mais antigas de prevenção em Saúde. A primeira vacina de que se tem registro foi criada pelo médico inglês Edward Jenner, no século 18, para combater a varíola. No Brasil, a primeira iniciativa de imunização ocorreu no início do século 19, com a criação da Junta Vacínica da Corte. De lá para cá, o País se tornou referência em políticas públicas de vacinação por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

O que se vê recentemente é um risco de retrocesso, em especial em relação a algumas doenças consideradas erradicadas exatamente pela imunização massiva. Um exemplo são os surtos de sarampo registrados desde o início de 2018 nos Estados de Roraima e Amazonas. Segundo dados do Ministério da Saúde, até o dia 1º de agosto, foram contabilizados 742 casos da doença no Amazonas, e 4.470 estão em investigação. Em Roraima foram confirmados 280 casos e 106 continuam em investigação. Há ainda ocorrências espalhadas em outros Estados, consideradas isoladas pelo poder público: São Paulo (1), Rio de Janeiro (14); Rio Grande do Sul (13); Rondônia (1) e Pará (2). Em 2016, o Brasil havia recebido da Organização Pan-Americana da Saúde o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo. 

Embora o governo federal garanta que essas ocorrências são importadas – especialmente da Venezuela -, é fato que a cobertura vacinal está caindo. Apenas em 2017, dados preliminares apontam que 85,2% do público-alvo foi alcançado na primeira dose (tríplice viral) e 69,9% na segunda dose (tetra viral) que previne o sarampo, quando o objetivo da campanha era alcançar cobertura de 95%. A campanha nacional de imunização contra poliomelite e sarampo teve início este ano no dia 06 de agosto.

A baixa cobertura vacinal também causa preocupação em relação ao retorno da poliomielite, conhecida popularmente como paralisia infantil. Segundo o órgão federal, há 312 municípios brasileiros com risco de surto da doença, erradicada há 28 anos no País. A ameaça, conforme o ministério, existe em todos os locais com cobertura vacinal abaixo de 95% e é crítica nessas 312 localidades. Foram registrados 96 casos da doença em 2017 em todo o mundo, 54 a mais que em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mas por que a cobertura vacinal está em queda?

Especialistas apontam que o problema é cultural. As vacinas estão vinculadas à percepção de risco da doença – quanto maior, mais elas são procuradas pela população. Quando se trata de doenças erradicadas, há mais dificuldade de enxergar seus perigos.

Diante desse cenário, a melhor forma de o hospital se preparar para atender à demanda ocasionada por surtos como esses é prevê-la. As tecnologias de gestão podem ser aliadas nesse sentido. Um exemplo é o uso do prontuário eletrônico, que reúne informações sobre todos os atendimentos realizados pelo hospital. Com esses dados, é possível recorrer a ferramentas de inteligência de negócios (como Business Intelligence e analytics) para traçar cenários futuros, determinar populações de risco e lidar com o aumento da demanda por atendimento em casos de surtos. Essas tecnologias são capazes de organizar, hierarquizar e cruzar dados, determinando a localização das populações com maior risco de contrair as doenças.

Apenas lidar com o aumento da demanda, porém, não resolve. O sistema de Saúde como um todo deve priorizar a prevenção. Mais uma vez a tecnologia serve de auxílio, em especial na conscientização sobre a necessidade da vacinação. Um exemplo são os sistemas que permitem gerar alertas para identificar pacientes que não foram imunizados. Com eles atua-se proativamente – e não somente esperar que a população busque o serviço – o que pode ocorrer apenas quando a doença já está instalada.

Com iniciativas de prevenção e o estímulo adequado à vacinação, há um ganha-ganha: de um lado se promove a saúde da população e, do outro, evitam-se custos com agravos ocasionados por doenças que podem deixar sequelas para o resto da vida.

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