Tecnologia de Gestão

Transformação digital: prepare o hospital para essa onda

Tendência vai muito além da informatização e promete revolucionar a Saúde, mas é preciso maturidade de gestão para não morrer na praia

Roberto Gordilho

Eu tinha 20 e poucos anos quando notei que a informatização era uma onda avassaladora sobre o mercado corporativo. Fundei minha primeira empresa e, com mais alguns sócios, programava softwares durante as noites e, de manhã e à tarde, fazia reuniões com potenciais clientes. Todas essas conversas eram baseadas na seguinte premissa: “a questão não é se você vai se informatizar, mas quando“. Minha companhia foi a primeira da Bahia a ofertar soluções integradas de gestão empresarial (ERP).

Estava claro para mim, e eu fazia questão de deixar isso claro também para os clientes, que não havia jeito de voltar atrás. Quem não se adaptasse, em primeiro lugar, perderia chance de crescer. Contudo, à medida que o cenário fosse se consolidando, a ideia era se informatizar para não morrer – e muitos morreram.

Uma onda parecida com essa passa agora sobre nossas cabeças e afogará muitos desavisados – aqueles que ficam olhando somente para os próprios pés. Estou falando da transformação digital.

O cenário não é o mesmo de há 30 anos, quando a informatização trazia fortemente o conceito de automação de processos para ganho de eficiência. Por mais que muito fornecedor fique com os pelos da nuca eriçados, na iminência de vender mais soluções de TI, não é disso que se trata. A transformação digital traz consigo uma revolução na forma de pensar o negócio. E, na Saúde, está intimamente ligada à evolução da maturidade de gestão hospitalar.

Apenas comprar mais software não vai resolver. Isso é discurso de vendedor.

Obviamente que o item tecnologia é muito importante nesse processo, mas os pilares pessoas e processos fecham a composição do tripé, que deve ser gerido por líderes que estejam dispostos a extrair da digitalização do hospital processos mais seguros e um negócio que tenha o paciente no centro. Ele, o paciente, é o rei – e não mais apenas os diferenciais de gestão ou de equipamentos do hospital.

E a transformação digital só é efetiva com a gestão madura. Esses dois movimentos ocorrem, então, de mãos dadas, porque ambos pressupõe revisão de  processos, governança corporativa, gestão de pessoas, tecnologia e a estratégia empresarial como um todo.

Uma coisa é automatizar processos de baixa inteligência. Outra é usar a tecnologia para colher dados e identificar padrões que permitam uma mudança processual e gerencial que realmente transforme a forma de operar e se relacionar com o cliente (paciente). A transformação digital permite identificar gargalos, pontos de melhoria, trabalhar questões de eficiência de uma forma não só ligada à operação, mas no sentido de qualidade global e segurança da informação, com o conceito do eletrônico fim a fim em  que o paciente está no centro.

Uma coisa, por exemplo, é um hospital que trabalha com processo de triagem e condução do paciente totalmente informatizado: a pessoa recebe uma senha assim que chega na recepção e tem todas as atividades e histórico integrados ao seu prontuário eletrônico do paciente (PEP). Isso tudo agrega muito valor e facilita o trabalho de todos. Mas ainda é automação de processos.

A transformação digital não melhora esse cenário, ela revoluciona. Pense  nos bancos: economizaram bilhões terceirizando o trabalho da boca do caixa para seu cliente. Nós efetuamos o pagamento de contas para eles sem cobrar nada por isso, apenas pela facilidade e conveniência do internet banking.  O mesmo ocorre com o varejo. Quanto ele não perdeu, ou ganhou,  desde que o e-commerce surgiu?

Agora, imagine um paciente chegando a um hospital previamente identificado pelo seu smartphone, com procedimentos já autorizados pela operadora do plano de Saúde, já tendo feito um primeiro contato, a distância, com seu médico, e com todas as informações de saúde disponíveis? E falo todas, afinal, com tantas pulseiras e gadgets que captam movimentos, temperatura, batimentos cardíacos e muito mais, monitorar nossa saúde vai fazer parte do dia a dia das instituições, e isso é muito mais que tratar doenças. Quanto uma mudança como essa não vai economizar em tempo de espera, equipe, e proporcionar qualidade de vida para as pessoas? Qual o impacto sobre a segurança do paciente? Parece cena de filme de ficção científica? Vai por mim: esse cenário é tão futurista hoje quanto era um ERP era na década de 1980.

Eu vejo, em um futuro próximo, as instituições efetivamente se transformarem em organizações de saúde, onde a prevenção e educação serão tão ou mais importantes que a cura. Essa é a verdadeira transformação digital.

E eu te pergunto: vai pegar essa onda ou vai se afogar?

Roberto Gordilho é fundador da GesSaúde, mestrando em administração, especialista em sistemas de informação, engenharia de software, desenvolvimento web e em finanças, contabilidade e auditoria, possui mais de 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia e gestão, sendo 15 na área da Saúde.

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Foto: Depositphotos

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