Estratégia Empresarial

Como reduzir a incidência de erros médicos por medicação e os impactos financeiros

Em apenas um ano, R$10,9 bilhões de recursos foram consumidos por falhas mostrando a necessidade de investir na prevenção de erros evitáveis

Por Wilson Lemes

Erros como na dosagem de medicamentos ou uso incorreto dos recursos disponíveis acabam levando a um resultado fatal. Foto: Pixabay

A medicina está sempre avançando e inovando para trazer opções de tratamentos e segurança para os pacientes, mas, mesmo assim, existe um perigo oculto que culmina tanto na perda de vidas quanto nos gastos hospitalares. Segundo o Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 829 brasileiros morrem todos os dias em decorrência de condições adquiridas nos hospitais. Isto equivale a três mortes que poderiam ser evitadas a cada cinco minutos.

Erros como na dosagem de medicamentos ou uso incorreto dos recursos disponíveis acabam levando a um resultado fatal. Como consequência, em 2016 302.610 brasileiros morreram em hospitais públicos ou privados. O número de mortes supera a soma diária de vítimas fatais de acidentes de trânsito, homicídios, latrocínios e câncer. Ainda de acordo com o anuário, dos 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais ao longo de 2016, 1,4 milhão foram vítimas de pelo menos um evento adverso, que acabou consumindo R$10,9 bilhões de recursos. O dado serve de alerta para que se invista na prevenção desses problemas.

Muitos destes erros estão relacionados à falta de dados sobre o paciente como alergias, problemas antecedentes, complicações apresentadas após a ingestão de alguma medicação, informações que devem ser fornecidas em todas as idas ao hospital. O problema seria resolvido com um cadastro único dispondo de todas as informações úteis dos pacientes. Além da preocupação no que se diz respeito ao dano que pode causar aos pacientes, há também os efeitos sentidos pelos hospitais e sistemas de saúde.  

O envolvimento em um erro médico pode abalar psicologicamente um profissional da saúde, por exemplo. As instituições também perdem muito em credibilidade, o que pode afetar a habilidade da equipe em desempenhar a sua real missão. Entre 2010 e 2014, o número de processos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) aumentou 140%, passando de 260 casos para 626.

Além dos prejuízos financeiros, os erros podem abalar a credibilidade da organização de Saúde. Foto: Pixabay

As consequências financeiras e os desperdícios de verba causam um efeito devastador, especialmente em um sistema de saúde como o do Brasil, que sofre com a falta de recursos para investir e desta forma melhor resolver o problema. Um estudo da UFMG e do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) projeta que, em 2015, os erros médicos consumiram de R$ 5,19 bilhões a R$ 15,57 bilhões de recursos da saúde privada brasileira.

Ou seja, o custo de terapias corretivas, testes adicionais, novas medicações e readmissão hospitalar, necessários para tratar os erros, poderiam ser evitados se o equívoco original não houvesse ocorrido. Sem falar que o tempo demandado no tratamento e readmissões coloca pressão adicional sobre um corpo clínico já bastante estressado, drenam recursos que já são escassos e criam tempos de triagem e de espera ainda maiores para pacientes em circunstância de menos urgência.

Reduzir os equívocos e evitar os malefícios que proporcionam a alta incidência de erros médicos não é uma tarefa fácil e exige sinergia entre todos os recursos e pessoas envolvidas. É preciso direcionar investimentos em instalações, em equipamentos de qualidade e em equipes qualificadas, além de mensurar resultados, calcular metas e acompanhar a evolução. Afinal, estamos falando de um ambiente de trabalho acelerado, de alta coação e muito dinâmico.

Os líderes das instituições hospitalares que desejam reduzir a incidência de erros de medicação devem implementar sistemas de checagem, seja por meio de melhorias de processos ou por via da automação, de forma que isto incremente o trabalho dos dedicados profissionais da área de saúde. Para isso, é preciso equipar os profissionais de saúde com informação atual, relevante e acessível.

Obviamente, nada substitui um profissional de cuidados com a saúde capaz e bem treinado. Porém, disponibilizar informações clínicas e sobre medicamentos de qualidade, assim como ferramentas eletrônicas sofisticadas, pode ajudá-los a evitar erros médicos e criar workflows que impactam significativamente em sua capacidade de prestar cuidados mais eficazes e eficientes. Afinal, reduzir erros de medicações pode conter os danos aos pacientes, incluindo os riscos e, consequentemente diminuir os custos.

Wilson Lemes é Country Manager LATAM da Wolters Kluwer Helth, formado em Marketing, Negociação, Planejamento de Negócios, Dispositivos Médicos e Desenvolvimento de Negócios. O executivo acumula passagens por empresas como GE Healthcare, Nobel Biocare e O4B Consulting.

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