Tecnologia de Gestão

Especial Gestão Integrada da Infraestrutura Hospitalar #1: Gestão dos recursos físicos e tecnológicos

Mais que integrar tecnologias, deve-se agregar a gestão da infraestrutura hospitalar como recurso estratégico às demais disciplinas de gestão

Por Rene Magário

Acredito que todos concordam em classificar um hospital como um ambiente de grande complexidade, seja sob a ótica do atendimento, da assistência médica, da gestão administrativa, financeira, comercial, logística, jurídica e de pessoas, dos riscos envolvidos, ou seja, em função das tecnologias adotadas e das engenharias envolvidas – a chamada infraestrutura hospitalar. Esse é o tema dos artigos que passo a compartilhar no Portal GesSaúde a partir de agora.

A melhor definição que encontrei para infraestrutura hospitalar está no modelo desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e adotado pelo Ministério da Saúde desde 2006, denominado Recursos Físicos e Tecnológicos da Saúde (REFIT). A gestão Refit trata de todos os recursos de infraestrutura da Saúde, recursos de equipamentos médicos, inventários e diagnósticos dos parques tecnológicos, manutenções (preventivas, corretivas e preditivas), terceirização, treinamento e capacitação dos profissionais, planejamento, controle e fiscalização, software como ferramenta, criar e manter indicadores, pensar em incorporações tecnológicas futuras, incorporar recursos humanos (arquitetos, engenheiros civil, elétrico, eletrônico, mecânico, clinico, biomédico, tecnólogos e técnicos), contratos, documentações e normas, como atividades e atribuições.

Entretanto, acredito num modelo que vai além do Refit, o qual denomino gestão integrada da infraestrutura hospitalar, que, mais do que simplesmente integrar todas as tecnologias e engenharias, também integra a gestão da infraestrutura hospitalar, como um recurso estratégico, às demais disciplinas do plano de gestão.

Podemos dizer que o conjunto de tecnologias e engenharias de um hospital é, em sua essência, o hardware do estabelecimento de Saúde. É a plataforma que suportará as pessoas, os processos, os sistemas, os procedimentos e os serviços assistenciais.

Arquitetura, estrutura predial, climatização, energia elétrica, TI, equipamentos médicos e de infraestrutura hospitalar, planos de operação, de manutenção e de contingência, entre outros, formam um todo. Para funcionar bem, necessitam estar integrados entre si. Porém, não podemos esquecer que tudo isso só existe por um único objetivo: suportar os serviços médicos oferecidos pelo hospital.

Assim como não é concebível permitir que cada tecnologia ou disciplina de engenharia sejam conduzidas individualmente, também não é exequível fazer a gestão da infraestrutura sem a total integração ao modelo de gestão hospitalar. Estamos falando em garantir seu alinhamento à estratégia empresarial, aos processos de negócios, à governança corporativa, às tecnologias de gestão e à gestão de pessoas.

Quando a gestão integrada de infraestrutura hospitalar nasce no momento dos estudos de concepção ou viabilidade de um estabelecimento de Saúde, tudo será mais fácil posteriormente, mas infelizmente a grande maioria dos hospitais brasileiros não foram projetados assim, e erros de concepção aumentam os custos operacionais e a reduzem a produtividade dos hospitais.

Uma analogia que costumo utilizar e que simplifica o entendimento é observarmos como funciona uma equipe de fórmula 1. Todas possuem chefe de equipe, pilotos de prova, pilotos de teste, engenheiro chefe, engenheiros especialistas, telemetria, mecânicos, programadores, preparadores físicos, etc. Todas disputam a mesma prova, mas buscam resultados diferentes. As equipes de ponta sempre querem a vitória, da prova e do campeonato; mas há outras que simplesmente planejam melhorar seu desempenho, desenvolver tecnologias. A estratégia de corrida é decidida por piloto, chefe de equipe e engenheiros chefes, em conjunto; a quantidade de pit-stops, em qual volta ocorrerá, tudo é minuciosamente estudado.

Se o objetivo estratégico definido for melhorar a performance do carro em meio segundo por volta, cabe ao piloto repensar o traçado, os pontos de frenagem, sentir a dirigibilidade do carro em cada ponto do circuito. A telemetria vai fornecer os mais diversos dados para cada disciplina de engenharia envolvida. Caberá ao engenheiro chefe ou diretor técnico integrar todas as especialidades da engenharia, por exemplo: não pode o engenheiro de motores simplesmente despejar potência a mais ou o engenheiro de aerodinâmica diminuir a asa do carro, pois essas decisões provocarão impacto nos freios, no desgaste dos pneus, na aerodinâmica, na retomada de velocidade, no consumo de combustível, na resistência dos componentes do carro, nos custos da corrida.

Como as equipes de Fórmula 1 chegaram a esse nível de maturidade de gestão?

O objetivo da GesSaúde é elevar o nível de maturidade da gestão hospitalar, incluindo a gestão integrada da infraestrutura hospitalar. Não é possível que hospitais continuem sujeitos a decisões de incorporação de um novo serviço ou de uma nova tecnologia sem a participação dos gestores da infraestrutura hospitalar, pois aí começam os problemas.

Nos próximos artigos:

  • Apresentarei o modelo de maturidade na gestão da infraestrutura hospitalar;
  • Detalharei cada um dos níveis de maturidade do modelo;
  • Apresentarei dicas e sugestões para rápida implantação da gestão integrada da infraestrutura hospitalar.

Rene Magário é engenheiro, consultor e gestor de projetos do setor de Saúde. Atua como diretor de negócios da 2L Serviços, SZ Engenharia e CMS Company Consultoria.

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Foto: Shutterstock

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