Maturidade de gestão

Evolução das Santas Casas: religião, assistência e gestão

Instituições que nasceram com o Brasil enfrentam dificuldades financeiras graves; para vencê-las, resposta é profissionalização

Por editorial GesSaúde

O Brasil era ainda uma colônia portuguesa quando, em 1953, foi criado aquele que é considerado o primeiro hospital do país: a Santa Casa de Santos, à época chamada de Hospital de Todos os Santos. O principal desafio da instituição que nascia era lidar com as doenças tropicais e endêmicas que se proliferavam e tiravam muitas vidas dos colonos portugueses que desembarcavam no Novo Mundo.

No início as ferramentas e técnicas para tratar os doentes eram mínimas. Não era à toa que as primeiras organizações de Saúde estavam ligadas à religião: a cura era quase que inteiramente baseada na fé e na caridade.A localização das primeiras Santas Casas era restrita à parte litorânea da colônia, o que permitia que não apenas os moradores que viviam ali fossem tratados, como também os viajantes, que traziam todo tipo de doenças dos mais diversos cantos do mundo ou mesmo motivadas pela falta de sanidade que as naus, caravelas e embarcações ofereciam aos tripulantes.

As primeiras dificuldades enfrentadas pelas Santas Casas era lidar com as doenças tropicais e endêmicas que se proliferavam.
Foto: Pixabay

Até a proclamação da Constituição Imperial de 1824, que criou juridicamente o Estado brasileiro, existiam no Brasil ao menos 10 Santas Casas, localizadas em Santos, Salvador, Rio de Janeiro, Vitória, São Paulo, João Pessoa, Belém, São Luís, Campos e Porto Alegre. Além dessas instituições, haviam outras parecidas, como Beneficências Portuguesas, hospitais filantrópicos de comunidades como judaica, japonesa, Sírio-Libanesa, a maioria ligadas aos diferentes movimentos religiosos do país.

A primeira grande mudança em relação ao funcionamento das Santas Casas ocorreu por volta dos anos 1800. Até então, as atividades eram voltadas quase que exclusivamente à caridade. A partir desta data até por volta de 1940, as preocupações se tornaram filantrópicas. Pode parecer que não há diferenças, mas os objetivos da filantropia são diferentes da caridade. Os filantropos acreditam que a ajuda útil aos que necessitam é aquela que muda a natureza, dando mais conselhos que bens. É preciso não só recolher as pessoas, mas orientá-las para que reergam a família e, conseqüentemente, a sociedade como um todo. Portanto, ao assistir enjeitados e marginalizados, há a preocupação com o destino destes indivíduos, em torná-los úteis à sociedade. Assim, a caridade cede lugar à filantropia. Mas a religião continuava sendo o mote do funcionamento desses hospitais.

A partir da organização do Sistema Único de Saúde (SUS), criado com a Constituição de 1988, o setor filantrópico ingressou de uma vez no modelo de assistência com participação efetiva no atendimento e na contribuição de formulação de políticas públicas de Saúde, tornando-se parte integrante e essencial da Saúde Pública. Atualmente, estimativa da Confederação Brasileira das Santas Casas aponta que existem 2.100 Santas Casas e hospitais filantrópicos espalhados por todo o território nacional.

É preciso avançar com os  processos e tecnologias, trabalhar pessoas, estratégia e governança.
Foto: Pixabay

Gestão

Em uma sociedade moderna e com tecnologias que avançam exponencialmente, algumas Santas Casas começam lentamente a perceber que não é mais possível funcionar apenas com base na caridade ou na filantropia. Sem a visão de negócio, poucas entidades vão sobreviver ao cenário atual do setor – que vivencia mudanças no modelo de remuneração, falta de atualização da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), esgotamento do modelo de monetização, transformação digital e consolidação do mercado. São desafios que só podem ser vencidos com a profissionalização da gestão.

A dificuldade em perceber essa necessidade e promover mudanças está na condição atual de endividamento dessas organizações, ameaçadas diariamente de fechar as portas. No entanto, a resposta para a sobrevivência está exatamente nesse movimento. É preciso avançar com os  processos e tecnologias, trabalhar pessoas, estratégia e governança. Esse é o caminho para que as Santas Casas continuem a prestar esse serviço tão essencial para a população brasileira, especialmente aquela mais afastada dos grandes centros urbanos.

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