Gestão de Pessoas

Gestão de pessoas: como ser digital na operação e humano no trato com o paciente

Capacitação e mudança de mentalidade são essenciais para que o processo de transformação digital garanta um novo tipo de gestão do cuidado em Saúde

por Roberto Gordilho

Na Inglaterra do fim do século 18, o acendedor de lampiões era essencial para a sociedade em plena Revolução Industrial. Ele era responsável por, diariamente, ao cair da tarde, acionar todos os candeeiros das ruas, permitindo assim que o turno das fábricas fosse ampliado. Pouco mais de cem anos depois, com a chegada da iluminação elétrica, o profissional perdeu sua função. O avanço tecnológico causou comoção na classe: revoltados, alguns chegaram a cortar os fios que ligavam as lâmpadas aos postes, como represália.  Outros enxergaram as oportunidades e se transformaram em eletricistas.

Outros cem anos se passaram e a humanidade está em plena transformação digital, movimento também batizado de a Quarta Revolução Industrial. Nos hospitais, o conceito, que ganha cada vez mais força, é impulsionado por inovações como inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT, de Internet of Things) e cognificação, apenas para citar exemplos.

Serão necessários em torno de cinco anos para que todas essas tecnologias, que já existem e estão disponíveis no mercado, estejam inseridas no cotidiano da maioria das organizações de Saúde. Com isso, é necessário avaliar também o papel da gestão de pessoas, pois cada funcionário verá a forma como desempenha suas atividades mudar radicalmente, acompanhando a revolução na maneira como as instituições prestam seus serviços de cuidado.

O impacto da gestão de pessoas nos resultados das instituições hospitalares

Do ponto de vista do departamento de recursos humanos, a chave da transformação digital é a capacitação. É preciso treinar o colaborador no uso das ferramentas tecnológicas para que ele desempenhe os processos digitalizados e perceba a importância dos dados que estão sendo gerados para o negócio e para o cuidado do paciente. Mas essa não é a única necessidade. Cerca de 20% do aprendizado está na capacitação oferecida pela organização, cujo interesse principal é que o profissional use os sistemas. Os outros 80% dependem da mudança de mentalidade – esta, que deve partir de cada um.

A tecnologia precisa ser vista pelo profissional como uma forma não apenas de otimizar e agilizar seu trabalho, mas de mudar a maneira como hoje se prestam cuidados em saúde. Com o acelerado envelhecimento da população e o consequente aumento da demanda pelos serviços, os hospitais precisam começar desde já a trilhar o caminho que os levará a se tornarem, de fato, organizações de Saúde, apoiados pela prática das medicinas preventiva e preditiva. Esse paciente do futuro é empoderado e seus desejos são viver mais e melhor. É isso que o hospital precisará entregar.

Humanização

Esse novo profissional sabe que o conhecimento acumulado ao longo da carreira é importante, mas também reconhece a necessidade de enxergar a tecnologia como um apoio para o trato humanizado do paciente. Ele sabe que o olho no olho e o toque são insubstituíveis, mas também sabe o valor que uma base de conhecimentos digitalizada oferece no momento do diagnóstico.

Aproveitando o exemplo, essa é uma forma de mostrar que a tecnologia apoia tanto os profissionais que têm mais tempo de formação quanto os recém-formados. Afinal, o maior legado de um médico com 40 anos de profissão é a experiência acumulada ao longo desse período. Com essa experiência armazenada em sistemas com cognificação e inteligência artificial, ele tem a oportunidade de se tornar ainda mais especializado e oferecer um tratamento diferenciado a seu paciente.

A tecnologia também proporciona maior segurança para médicos que começaram sua atuação recentemente, por meio de uma base de dados sólida que pode ser consultada pela internet e servir de apoio ao diagnóstico. Ela também pode ampliar o acesso à Saúde, com o desenvolvimento da telemedicina, fazendo com que os serviços cheguem às localidades mais afastadas dos grandes centros urbanos.

As possibilidades são inúmeras e já estão acontecendo. Quem conseguir alterar seu mapa mental durante a passagem dessa onda terá mais chances de não ser engolido por ela. Com maturidade de gestão hospitalar, é possível garantir que a capacitação da equipe da organização de Saúde vá além do mero uso das ferramentas tecnológicas e estimule a mudança de cultura, sem deixar de lado o relacionamento humano.

Roberto Gordilho é fundador da GesSaúde, mestrando em administração, especialista em sistemas de informação, engenharia de software, desenvolvimento web e em finanças, contabilidade e auditoria, possui mais de 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia e gestão, sendo 15 na área da Saúde.

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Foto: Freepik

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