Gestão da Saúde

Modelos de remuneração: novos desafios para organizações de Saúde

Especialista aborda a necessidade de as instituições se adaptarem ao novo modelo de remuneração focando em qualidade dos serviços

Por Editorial GesSaúde

Modelos de remuneração que garanta atendimento de qualidade, redução de custos e sustentabilidade para o negócio. Essa é a busca pela qual muitas organizações de Saúde estão passando. De acordo com Eduardo Regonha, fundador da XHL Consultoria, antes de adotar novos modelos de remuneração, os gestores devem deixar a instituição organizada internamente, com processos claros e reforçar o número de informações estatísticas de custos que sejam atualizadas e confiáveis. Esses serão alguns dos temas abordados pelo especialista durante o II Congresso Brasileiro de Maturidade de Gestão da Saúde, na palestra “Remuneração por performance, o segredo está no custo”. O evento acontece no dia 24 de outubro, em São Paulo.

Editorial GesSaúde: Quais são os principais desafios que as organizações de Saúde terão de enfrentar na mudança do modelo de remuneração?

Eduardo Regonha: Seguindo uma tendência mundial, os custos da Saúde no Brasil estão cada vez mais elevados. Os reajustes dos planos de Saúde normalmente são bem maiores que a inflação corrente e, acrescentando-se ainda, a crise econômico-política que impactou uma forte redução no número de beneficiários de planos, despencando de 51 milhões para, aproximadamente, 47 milhões, muitas medidas de contenção de gastos vêm sendo adotadas por todos os players do mercado de Saúde no intuito de conter custos, proporcionar sustentabilidade e viabilizar o sistema.

O setor Saúde vem adotando metodologias e ferramentas como opções para redução de custos e melhorias de desempenho. Entre elas podemos destacar o amadurecimento e o crescimento na adoção de novas formas de remuneração. Dentre as diversas adaptações que as instituições terão que passar para adoção de novos formatos eu destaco a necessidade de informações confiáveis e dinâmicas, que proporcionem uma correta e adequada apuração dos custos, ajustáveis às características de cada modelo. É fundamental tanto para avaliação do desempenho quanto para efeito da comparabilidade no uso de insumos, a previsibilidade e a  precificação para a negociação por meio desse novo formato de remuneração.

Um sistema de custos dinâmico e estruturado, que possibilite a geração de informações que respondam às necessidades do novo modelo. Dessa forma, é importante destacar que, para uma boa negociação nesse novo modelo, conhecer os custos e definir uma boa base para precificação são condições indispensáveis para alcançar o sucesso por intermédio desse novo formato de remuneração. Frente a esse contexto, um sistema de custos que atenda às necessidades dessa metodologia, com critérios e métodos adequados, proporcionando confiabilidade, transparência e dinamismo para as futuras negociações realizadas por intermédio destes novos formatos.

Editorial GesSaúde: Quais os motivos de o fee-for-service não atender mais a dinâmica do mercado de Saúde?

Eduardo Regonha: Há mais de 20 anos o fee-for-service vem sendo criticado pelo mercado por se tratar de um modelo que estimula o gasto. Pois quanto mais insumos (materiais, medicamentos, diárias, taxas) forem utilizados, maior será o faturamento, ou seja, é um sistema que tem como foco o volume e não a qualidade; um sistema que premia o “maior custo”. Todavia, apesar de toda a crítica, o sistema de Saúde vinha num crescendo: no ano 2000 havia aproximadamente 30 milhões de beneficiários de planos de saúde, chegando em 2014 a aproximadamente 52 milhões, por isso poucos movimentos foram dados para alteração deste processo. Porém, a partir de 2014, com a forte crise e demissões em massa, o número de beneficiários reduziu para aproximadamente 47 milhões, gerando impactos em todo sistema sentidos não só nas operadoras mas também fortemente nos prestadores de serviços. Desde então percebeu-se que alguma coisa deveria ser feita, foi quando os novos formatos de remuneração começaram a efetivamente serem aos poucos implantadas em diversas situações com exemplos espalhados em inúmeras instituições em todo território nacional. A redução de custos tornou-se uma necessidade para sobrevivência do sistema e o fee-for-service é caracterizado como um dos principais indutores de custos. Novos modelos passam a ser testados, mas é consenso que em alguns casos o fee- for -service continuará a ser utilizado.

Editorial GesSaúde: Qual o nível de maturidade de um gestor que compreende a transformação que está acontecendo no modelo de remuneração?

Eduardo Regonha: A maturidade do gestor nesse quesito passa em deixar a casa arrumada, com todos as informações estatísticas de custos atualizadas e confiáveis. Ou seja , estar apto para tomar decisões rápidas e seguras em qualquer negociação que possa ocorrer nos novos formatos que venham a ser propostos para a instituição, sob o risco de perder receita ou resultado caso aceite uma negociação sem o subsídio necessário para uma decisão assertiva. Reitero que é necessário um bom sistema de apuração de custos que permita informações flexíveis e adaptadas às novas tendências de negociação que se avizinham.

Editorial GesSaúde: Na remuneração por performance, como a gestão hospitalar vai custear serviços e insumos?

Eduardo Regonha: Eu diria que o mercado está em um processo inicial de aprendizagem de como desenvolver a remuneração seja por performance VBHC (Saúde baseada em valor), seja por DRG (Grupo de diagnósticos relacionados) – que, apesar de não ser efetivamente um modelo, muitos defendem o uso do DRG para remuneração. Poderia destacar que a própria ANAHP vem discutindo e testando como evoluir para um modelo de VBHC e como será a remuneração neste formato.

Ou seja não temos ainda uma fórmula pronta. Os ensaios já começaram, mas sem ainda um método definitivo para a valoração e precificação. O que eu posso dizer com total segurança, seja qual for o modelo, em qualquer método de valoração e precificação que venha a ser adotado, o foco sem dúvida estará direcionado para o uso dos insumos nos tratamentos. Portanto, necessitamos de informações que possibilitem a valoração dos insumos de forma confiável , flexível e dinâmica.

O conhecimento do custo do consumo de materiais e medicamentos por paciente, a estatística de utilização dos recursos deste paciente, ou seja, o número de diárias utilizadas, as horas de cirurgia, a quantidade e tipo de exames realizados, são informações básicas para a montagem de uma metodologia que possibilite o conhecimento efetivo e real do tratamento do paciente. E diante destas informações, com o uso de ferramentas como um software de TI, nos gera a possibilidade para custear e precificar os serviços nos diversos formatos, se adaptando e se ajustando às informações e sistemas que temos disponíveis adequadas à realidade. Pois não adianta querermos um carro que voa, mesmo que ainda esteja em estudo, ele não existe de fato. Então, temos  que nos adaptar aos carros que temos hoje.

O congresso

O II Congresso Brasileiro de Maturidade de Gestão na Saúde é uma iniciativa da Comunidade Maturidade de Gestão. Diversos painéis sobre os enfrentamentos e transformações da Saúde serão apresentados por especialistas renomados de todo o País. Os ingressos estão disponíveis no site oficial do encontro.

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